A criança de 4 anos tem um espírito vigoroso. Tende a sair das marcas, quer com os músculos, quer com a mente e é assim que se desenvolve, avançando por jactos de imaginação e movimento.
Ser-lhe-á difícil, ainda durante algum tempo, preocupar-se muito com os sentimentos alheios. Não é tão sensível a elogios como era aos 3 anos e como voltará a ser aos 5. Em vez disso, elogia-se a si própria com as suas gabarolices. Tem fraca apreciação dos desapontamentos e das emoções alheias. Interessa-se com grande curiosidade pela morte, mas tem escasso entendimento do seu significado. É persuasiva porque as suas palavras transcendem muitas vezes os seus conhecimentos.
Possui elevada energia motora. Consegue agora, ao mesmo tempo, falar e comer.
A criança de 4 anos domina melhor todo o seu equipamento motor, incluindo a voz. Embora lhe agrade uma actividade motora violenta, também é capaz de se deixar ficar sentada bastante tempo a executar tarefas manuais que lhe interessam.
A criança de 4 anos é muito faladora. Gosta de utilizar palavras, de experimentá-las e de brincar com elas. Gosta de palavras novas e diferentes. Também gosta de experimentar palavras tolas para descrever coisas concretas. O fluxo das suas perguntas atinge o máximo. Uma criança de 4 anos inteligente e loquaz tem tendência a não largar um tema antes de esgotá-lo e a exaurir todas as possibilidades verbais. Naturalmente que a sua sintaxe tropeça com frequência.
A explicação da psicologia da criança de 4 anos reside na intensa energia conjugada com uma organização mental de grande fluidez. A sua imaginação está em quase perpétuo movimento. Ela é loquaz porque a sua imaginação é variada, e também porque ela pretende exprimir as suas experiências numa fraseologia mais flexível e mais amadurecida. Tem tendência a repetir frases feitas, da cultura linguística em que vive. A sua utilização dos números é mais experimental do que crítica, porque está a ensaiar as palavras. Mas, às vezes, relata com fidelidade absoluta o que aconteceu em casa.
Está numa fase “desenvolvente”, em particular no que respeita às relações interpessoais e comunicação social. É um período de aquisição e de rápida aculturação. Não é de estranhar que tenda a sair das marcas, especialmente no domínio da linguagem, mas o que ela essencialmente está é a esforçar-se (através dos impulsos do desenvolvimento) por se identificar com a cultura e compreender as suas complexidades. Os seus alicerces são mais firmes do que aparentam ser.
As festas de aniversário são os temas de conversa favoritos. Na vida de grupo das crianças de 4 anos, surgem fragmentos e vestígios de uma sociedade tribal. Organizam-se em grupos de três e quatro, dão ordens e criam tabus. Erguem-se barreiras sólidas e expulsam-se os intrusos. Numa perspectiva desenvolvimentista, este comportamento negativo tem um significado decididamente positivo. O sentimento de pertencer a um grupo é um passo para a compreensão da natureza dum grupo social. A mãe é o tribunal de última instância e a sua autoridade é invocada com frequência “a mamã disse para eu fazer assim”.
Os padrões sociais equilibram-se e definem-se parcialmente por uma conduta anti-social. A criança de 4 anos gosta de chamar nomes às pessoas, torna-se provocadora. A criança está a sentir as suas forças e a experimentá-las. Na lógica paradoxal do desenvolvimento, os extremos tocam-se.
A criança desta idade experimenta um prazer significativo em ouvir explicações. E também gosta de fazer caretas. É outro processo de se identificar com os adultos e de aperfeiçoar a sua habilidade de leitura das expressões faciais. Está efectivamente a ler, a falar e a agir no interior das complexidades da sua cultura.
(Arnold Gesell, A criança dos 0 aos 5 anos)